ELFLAND

ELFLAND
Tertulia Castelense, 10 Abril, 2010

“…celebra o amor pela música e pelo belo como factores impulsionadores de vida”, assim se descrevem no seu site.



Acho mesmo que é a melhor forma de descrever o som desta banda com origem em Espinho/Porto em 2003.

Tendo na sua base o guitarrista Celso e a vocalista Susana e “mulher dos sete instrumentos”, contam finalmente com uma formação completa e acima de tudo sólida, permitindo apostar em voos mais altos. Falo de Nuno Gaspar um outro multi-instrumentista (sintetizador, sampler, flauta, e muitos outros suspeito) que parece entrar em transe aqui e ali de tão apaixonada é sua forma de estar, João Leitão que se ocupa e muito bem do baixo de forma segura e fluida ao mesmo tempo e de Nascimento, o homem das baquetas, muito exacto, conciso e com um som carregado de swing na sua forma de tocar.

Com a sala de coração quente e acolhedor, deram inicio á sua actuação e pouco a pouco, assistiu-se ao desfilar de composições no mínimo inebriantes.

Tendo apenas o EP homónimo de 2006 como cartão de visita, tem hoje um vasto leque de composições ricas em deliciosas harmonias, tanto eclécticas como sensíveis. Um misto de rock, jazz, com ambientes que nos fazem levitar, que nos transportam para além do palpável… ambientes esses construídos cuidadosamente sobre uma estrutura bem pensada, mas nunca de forma mecânica.

Muito pelo contrário. As pitadas de sonoridades psicadélicas em doses a gosto, assim como todo o trabalho de arranjos, em especial as linhas de guitarra e piano, servem um propósito maior do que mostrar obra e talento.

Abriram com o tema “Birds”, nervoso passeio com ares “Nick Cave”ianos, sem o lado doloroso. Atrevo-me a dizer que ele próprio se vergaria perante esta composição.
Os temas sucedem-se e rapidamente se torna claro.

Estamos perante músicos que conseguem algo que resulta de uma química rara, aquele elemento que faz a música e os seus criadores transcenderem a sua realidade física e imediata.

Conseguem que surja a vontade de fechar os olhos e sentir tudo, cada nota, decifrar intenções, abandonar convenções óbvias e adoptar outros sentidos…
Neste momento em que nos servem milhares de temas por segundo, em que somos esmagados tanto por qualidade como quantidade de bandas, sabe melhor do que nunca sentir algo mais do que inovador ou de qualidade irrepreensível, sabe bem, querer estar ali a explorar, sem pressa de consumir mais e mais e mais…

O tema “Flight over Mars” é um do melhor que se fez por terras lusas. Numa palavra: perigosamente adictivo.

Não se pode passar ao lado desta banda. A perda seria irremediável.



Entrevista
Á conversa com Celso e Susana…

Como surge a banda e o seu conceito?

Susana- Eu já tinha algumas músicas, algumas ideias e queria ter músicos para tocar comigo. Resolvi dar o nome ELFLAND porque as letras quase todas falavam de um cenário de fantasia… depois encontrei algumas pessoas que não conhecia, dado que não conhecia nenhum dos elementos… uns por amigos, outros por coincidência ou ainda pela internet e surgiu a nossa 1ª formação, sendo que desde aí já passaram várias.

Celso- Em termos de conceito, tentamos ser o mais heterogéneos possível mas sempre mantendo uma marca que supomos e esperamos que seja a nossa. Exploramos vários tipos de sonoridades, não estamos presos a um estereotipo ou a uma sonoridade em concreto nem especifica, nem nos preocupamos com isso… é evidente que ouvimos musica, e lemos livros etc, e isso tudo somado dá o som ELFLAND.

A formação actual, que influencias tem os seus músicos em geral?

Celso- Lá está, ouvimos mesmo muita música. Bossa nova, pop, rock, jazz, psicadélica. Eu ultimamente ando a ouvir muito os Grizzly Bear e Owen Pallet.

Susana- Mesmo dentro da própria banda, não ouvimos as mesmas coisas… Eu é Hermeto Pascoal, e claro, todas aquelas bandas de sempre tipo Radiohead, Jeff Buckley…



Qual o background musical de cada elemento da banda?

Celso- Eu sou formado em guitarra clássica pelo conservatório do Porto, estudei jazz… e venho desde há muitos anos a tocar tudo e mais alguma coisa, mas a formação é essa.

Susana- Todos nós estudamos, mas falando por mim, estudei vários instrumentos: órgão, bateria, piano e guitarra eléctrica na escola de jazz, e tenho o curso de educação musical.

Falem-me do da forma como os temas surgem, do processo criativo, etc.

Susana- Geralmente faço a estrutura (letra e musica) e levo para a sala de ensaios para todos darem o seu contributo, ideias, etc.

Celso- O que não sai nos ensaio, depois temos de nos fazer reclusos para chegar lá [risos]…

Susana- Tambem temos trabalho sem ser nos ensaios…

Celso- Sim, eu e a Susana juntamo-nos para trabalhar arranjos de cordas e orquestra, etc, tudo que se pode ouvir em concerto.

Como definem o vosso som?

Celso- Nós temos a impressão que estamos levar com tudo, porque não nos conseguimos prender a um género apenas. Tanto fazemos algo psicadélico como a roçar bossa nova. Talvez se possa dizer que o nosso som é melancólico, mas não forçosamente calmo.
Quais os sentimentos que querem fazer passar?

Celso- Eu deixo isso mais ao critério das pessoas… um mesmo tema pode ser sentido de formas diferentes de pessoa para pessoa…

Susana- Mesmo dentro da banda… as vezes alguém diz “este tema é alegre” e nós “alegre?!”



Como surgiu o EP?

Susana- O EP surgiu com outra formação (outro baterista e baixista), éramos quatro na altura, mas esses elementos entretanto saíram… Surgiu com a necessidade de mostrar o que estávamos a fazer, não apenas ás pessoas mas também a nós próprios… e acho que escolhemos bem os temas.

Celso- Acabamos por gravá-lo quase todo sozinhos. Quanto aos temas, o facto de estares em estúdio obriga-te a definir melhor as coisas. Por vezes as coisas espontâneas que surgem na sala de ensaios e pensamos que até estão bem, ao reflectirmos sobre elas acabas por ver que não é bem assim, ou consegues certamente melhor.

Como tem sido as reacções?

Celso- Ele acabou por não ser editado. Ia ser uma edição de autor, mas depois com a saída dos restantes elementos, a formação mudou, e não fazia sentido irmos avante. Tocar tudo aquilo sozinhos pelas estrada, não era possível, obviamente.

Então houve uma pausa em termos de actuações, porque demorou ainda um tempo a encontrar os elementos certos que encaixassem na banda. Ficou sem se editar nada, mas ficou o registo e serviu para dar a conhecer a algumas pessoas, e ainda passou nas rádios.

Planos em relação a um longa duração, existem? Falem-me disso.

Susana- Estamos a pensar gravar.

Celso- Estes concertos que temos vindo a fazer também é um bocado para trazer ao publico todo um reportório que já existia e também ver a reacção das pessoas, porque se fossemos agora para estúdio não podiamso gravar os temas todos, era impossível. Assim dá para se ter um feedback e ajuda sempre na escolha.
Estamos então nessa fase, e depois sim, ir para estúdio gravar.

Em termos de editora, tem algo a acontecer?

Celso- Houve na altura do EP, e entretanto iremos pensar nisso, mas actualmente as bandas não dependem tanto disso como há uns anos.

Qual a vossa opinião sobre a cena musical nacional e em relação á sua evolução?

Celso- As condições melhoraram muito, mesmo em termos de material, estúdio, e até em tocar ao vivo. Para quem começou a tocar no inicio dos anos ’90, na altura não havia praticamente nada, tínhamos de inventar, as infra-estruturas eram nulas, e já não estamos nos primórdios, já muita coisa tinha sido feita com o boom do rock português. E tudo foi evoluindo, naturalmente.

Projectos a curto e longo prazo?

Susana- Alguns concertos agora, não só para mostrarmos mas também para rodarmos os próprios temas para depois fazermos a gravação e fazer chegar ao maior nº de pessoas possível.


“…Elfland... terra de fadas e de duendes... terra de sonhos…”
A Imagem Do Som espera que esses sonhos se realizem.


REPORTAGEM (TEXTO E IMAGEM) : RICARDO COSTA

AGRADECIMENTOS
TERTÚLIA CASTELENSE


.


Sem comentários:

Enviar um comentário