João Coração
Casa das Artes
Vila Nova de Famalicão
06 de Março, 2010
Posso deixar já por aqui as formalidades. João Coração tem um 2º álbum chamado “MUDA QUE MUDA”, e trata de o mostrar, como qualquer outro músico, mas…
Falar de João Coração, não é tarefa fácil. É já a minha segunda tentativa, e mais uma vez deparo-me não com um “bloqueio de escritor” (expressão presunçosa sim) mas precisamente o contrário.
Sim, porque existe imenso a dizer. E estava eu convencido que tinha a tarefa facilitada, tendo os álbuns na mão, e tendo mais um concerto debaixo do braço. Pois.
Quem não o conhece, por favor, leiam a 1ª reportagem, do concerto no Theatro Circo de Braga, onde se apresentou com banda completa ou melhor, “á FlorCaveira” por assim dizer. Trata-se de um movimento com um manancial de talentos e onde a bandeira é essa coisa abusada, a chamada “música”. Qual a missão? Recuperá-la tal cavaleiro marcha contra dragões e ainda todo o tipo de besta terrena, arriscando vida, alma e existência espiritual pela tão falada bela donzela…
Mas e o concerto?
Para começar, Coração veio acompanhado de apenas dois músicos: O Cão de Morte e Coelho Radioactivo. Sim, os seus talentos vão muito para além do sorriso que os seus pseudónimos provocam. Visitem os seus devidos espaços online, onde podem confirmar isso mesmo.
O espaço é óptimo. Um bar no topo da bela Casa das Artes, que apenas funciona para estes eventos, mas muito acolhedor. Sentimo-nos em casa, e é lá que entra o artista da noite.
João tinha dormido apenas três horas na noite anterior e começou por pedir desculpa perante o facto.
Depois pegou em tudo que tinha e vi o trovador de quem se fala, queixo erguido, pernas afastadas, a alma no olhar, e toda uma força que vai tomando conta de quem tem uma missão: sentir e fazer sentir.
O cansaço apenas remeteu mais dramatismo para as palavras e actuação em geral.
Lembram-se daquela donzela? Aqui travou-se mais uma batalha. E este caval(h)eiro não dá tréguas a uma assistência totalmente encurralada. Sim, porque não se esqueçam, isto vai de batalha em batalha, tema em tema.
A forma humilde mas consciente, desprovida de artifícios, o simples acto de partilha de sensações, foi derretendo o gelo inicial. Alguém escreveu algures “a música deste Coração é para ser encarada de joelhos no chão tal acto de prece”. É exacto.
Desde a “Abalada Farewell” (começar uma apresentação com uma despedida) que é uma “cura de pré-saudade”, passando por uma tal de “Joana” onde fica no ar esse lugar chamado amor (ou não), ou o genial tema-titulo “Muda que muda”, ritmado e com uma letra daquelas que lhe prometem o estatuto de hino destes tempos estranhos. Vendo bem, esta apreciação estende-se a vários temas do álbum, tal a coerência.
Coração com coração se paga, nada mais justo e no final, ficamos nós a ganhar.
Houve tempo para o improviso, boa disposição entre os músicos que passou para o lado de cá, e ainda para um encore surpreendente: um dos temas mais tocantes do seu reportório, chamado “A Balada dos Uivos”, do 1º álbum “Nº1 Sessão de Cezimbra (cheio de pequenas pérolas), aqui total e literalmente despida, sem amplificação, músicos fora do palco, um João claramente em últimos suspiros… tal Cristo descido da cruz, corpo vencido mas missão cumprida.
Era minha intenção começar este texto com algo do género:
“Era uma vez uma coisa chamada música, as pessoas juntavam-se em redor de uma outra pessoa que não passava disso mesmo, e maravilhavam-se mutuamente: os sorrisos, lágrimas e batidas de pé, e todas essas coisas vindas do Coração”
Sim, é isso.
TEXTO : RICARDO COSTA
FOTOGRAFIAS : HUGO SOUSA
AGRADECIMENTOS
quando o coração é grande!
ResponderEliminarCuidado!
ResponderEliminarO João Coração melhorou bastante no 2o disco mas continua a demonstrar o herdeiro-burguês que é. Sem talento, diga-se.
Nem vou aprofundar na piada de mau gosto que é o "Nº1 Sessão de Cezimbra", completamente desprovido daquilo que chama pérolas. Mas vou contudo referir a fraca prestação ao vivo, que já assisti em 3 ocasiões, onde vi sempre um sujeito a mandar o barro à parede com as suas excentricidades, que funcionam para quem realmente sabe o que está a fazer. Não é o caso. Isto é falso, é mau e é uma burla para quem se deixar levar. Tendo em conta que da mesma casa vêm coisas muito interessantes (B Fachada, Samuel Úria e os espectaculares Diabo na Cruz), não se pode confundir gosto com qualidade. O Ricardo pode gostar, mas não diga que é bom.
Cumprimentos.
São opiniões caro "Anónimo".
ResponderEliminarSeja sempre bem vindo.
Ricardo, eu por acaso..
ResponderEliminarem relação ao Anónimo ia dizer:
como é que o ricardo há-de dizer que gosta mas não é bom. não tem jeito nenhum -.-
cada um gosta do que gosta, caro anónimo. o mundo é mesmo assim.