Porto
Casa da Música
1 de Maio de 2010
FAUSTO, eis aqui o Extraordinário
Havia inevitavelmente algo no ar enquanto se aguardava o início do concerto de Fausto num 1º de Maio, que encerraria o Festival Música e Revolução, levado a cabo pela Casa da Música entre 24 de Abril e 1 de Maio de 2010.
Quando as luzes se apagaram, os músicos foram entrando, um a um, e tomando o seu lugar no palco, ao som (gravado) de “O redil”. Depois entrou Fausto. De guitarra em riste, atacou o primeiro acorde de “Atrás dos tempos vêm tempos” e começou a enfeitiçar o público da Casa da Música.
O Fausto de hoje mantém a sua voz bela e a extraordinária dicção de sempre. Continua a cantar as suas letras como quem declama e passa a sua mensagem em forma de poesia como se de prosa se tratasse. Faz a sua música complexa parecer fácil, e toca com enorme sensibilidade, não facilitando em nada. Faz-se acompanhar por uma banda de músicos discretos, mas que interpretaram os seus temas com assustadora perfeição.
A pureza musical sempre foi uma das imagens de marca de Fausto. Os seus discos são meticulosamente masterizados e dignos de serem as referências dos mais exigentes audiófilos. Ao vivo, com todas as limitações inerentes, a qualidade era equiparável. A acústica da Casa da Música foi, de resto, o complemento perfeito para a execução singular a que se assistiu: o som esteve extraordinariamente puro e perceptível em qualquer um dos mais de mil lugares da sala.
A juntar à enorme emoção que é ver o recatado Fausto ao vivo (que pena não o termos, país fora, auditório após de auditório, a mostrar na primeira pessoa um bocado tão importante da história da música popular portuguesa e, porque não dizê-lo, do próprio país), o espectáculo valeu pelo esplendor do som e pela fidelidade aos originais com que os temas foram interpretados neste 1º de Maio. Isto faz história por si só. De resto, não houve nada de muito novo: Fausto falou pouco (agradecimentos à parte, falou duas vezes com o público e uma delas foi quando apresentou os músicos). Mas também era verdade que não foi para o ouvir a falar que a sala esgotou.
A Casa da Música demonstrou, de novo, ser uma sala impressionante: tem uma acústica perfeita, como se disse já, é bonita e tem um staff de gente nova e educada, que trata com enorme deferência o público. Mas se é verdade que poucas salas do país se lhe podem comparar em termos de conforto e de condições para o público – que são o seu cliente por definição, é certo – o mesmo já não poderão dizer aqueles que procuram imortalizar as imagens de quem por lá deixa o seu talento. É que também é verdade que os momentos só existem quando são registados, e isto só acontece quando o podem ser – e neste aspecto, em termos de facilidades e condições para que tal suceda, aquele local está longe de ser perfeito. O que é pena.
Quando o espectáculo chegou ao fim, muitos foram aqueles que acreditaram, em vão, que haveria lugar a segundo encore. Os assobios iniciais deram lugar a um imenso “Só mais uma!” e, daqui, a assobios mais fortes e mais fortes. Tão fortes que, durante praticamente dez minutos, a Casa da Música soou a campo de futebol. Mas Fausto não regressou e o último sentimento da noite acabou mesmo por ser de resignação.
Quem pode, pode. Quem não pode... assobia!
Setlist:
Introdução: O redil (gravado)
Atrás dos tempos vêm tempos
A carta de Paris
Daqui desta Lisboa
Uma cantiga de desemprego
Lusitana
Europa querida Europa
Um outro olhar sobre Caxias
Rosalinda
Já foste linda Rosa
Eu fui ver o campo
- Solo de percussões -
Era uma vez um cantor maldito
Eis aqui o agiota
Eis ali o dito cantor
A nova brigada dos coronéis
Adeus orelhas de abano
Se já não chamo p’lo teu nome
E o cantor olha as estrelas
Encore:
Roupa Velha
João Ferreira: percussões
Filipe Raposo: piano e sintetizador
Mário João Santos: bateria
João Maló: guitarra
Vítor Milhanas: baixo
Enzo D’Averza: sintetizador e acordeãoAlexandre Morais: coros / apoio de palco
Reportagem:
Sara Salgado e Rui Vaz
AGRADECIMENTOS
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