ENTREVISTA, KLEPHT

KLEPHT



A ENTREVISTA EXCLUSIVA À IMAGEM DO SOM


Num hotel do Porto...

18 de Março de 2010

 
KLEPHT. Ou a boa nova música portuguesa e em português



A escassas horas do seu concerto no Plano B, o primeiro de há seis meses a esta parte, os KLEPHT estiveram à conversa com a Imagem do Som.

Um espírito jovem e uma enorme vontade de vencer caracterizam vincadamente a maneira de estar destes cinco jovens, que sublinham orgulhosamente o facto de serem uma “banda” e de tudo aquilo que de mais musicalmente puro este conceito encerra. Dizem que vieram para música portuguesa para ficar, e nada mais querem do que fazer boa música e, com ela, melhorar continuamente: de espectáculo para espectáculo, de álbum para álbum.

O mais recente registo de estúdio, de seu nome HIPOCONDRIA e o segundo da banda, bem como a forma como vêem o panorama musical nacional, eram temas mais ou menos obrigatórios. Mas a conversa começou pelo espectáculo do Plano B, e pelo sentimento dominante da banda relativamente ao mesmo: seria, de alguma forma, o peso da responsabilidade pelo estrear de um novo ciclo?

Diogo Dias – O sentimento que predomina é a ansiedade de voltar a um palco. Nós já estamos há 6 meses sem pisar um palco e sem tocar ao vivo. Acabámos agora de gravar o segundo disco e foi uma experiência fantástica, mas onde nos sentimos mais realizados é em cima do palco.

Marco Reis – E sentimos o peso da responsabilidade também, porque quando fazemos o primeiro álbum ninguém está à espera de nada de nós; é o primeiro disco, é uma banda nova… Quando fazes o segundo, se o primeiro correu bem, tens uma maior responsabilidade, as pessoas já estão à espera de alguma coisa. Nós vamos aproveitar este concerto para experimentar 4 temas do novo disco e claro que estamos ansiosos para ver a reacção das pessoas.

E também têm esse sentimento de responsabilidade relativamente aos concertos?

Marco Reis – Mais do que relativamente aos concertos, sentimos isso por toda a estrutura web na qual estamos envolvidos, nomeadamente o Facebook e o MySpace, por onde recebemos montes de e-mails e mensagens, através das quais começamos a aperceber-nos que a coisa está a crescer. Mas sim, sente-se também nos próprios concertos, quando estamos à espera que as pessoas apenas cantem o single e temo-las depois a cantar mais do que um tema, como já sucedeu. É o tipo de coisa na qual acreditas, mas não estás à espera… Tudo isso contribui para uma maior responsabilidade futura como banda.

Diogo Dias – Uma coisa que nós quisemos com estes dois álbuns foi que a banda fosse crescendo de uma forma gradual. Nós nunca investimos muito na imagem, queríamos só que as pessoas conhecessem a música. E as pessoas muitas vezes iam aos nossos concertos e não sabiam que músicas é que nós tocávamos. Quando lançámos o primeiro disco, a reacção das pessoas era mais de expectativa, havia apenas uma ou outra música que cantavam. No final não, a máquina já estava muito mais oleada, tínhamos um concerto preparado de início ao fim, coisa que com este álbum tarmbém estamos a preparar. O concerto de hoje vai ser um misto daquilo que já não fazemos há 6 meses, se bem que de forma mais intimista – o Plano B dá-se a isso – e vamos experimentar os temas novos, o que é sempre uma sensação estranha. É claro que vão estar muito mais despidos do que estarão quando nós começarmos mesmo a produzir o espectáculo para este álbum, mas é um teste para nós também rodarmos e para a máquina voltar a engrenar.

 Porquê mais despidos?

Marco Reis - Nós neste disco, para além da base instrumental normal, o Diogo gravou vários teclados diferentes, por exemplo... Portanto, para reproduzirmos ao vivo tudo exactamente como no disco, precisávamos p’raí de mais 3 pessoas. Vamos ter algumas coisas a ser disparadas, previamente gravadas por nós em estúdio. Vamos ter muito mais responsabilidade, vamos estar a tocar com metrónomo, e por isso tem que ser tudo na hora. Estmos dar um passo grande…

Diogo Dias – … e um passo em frente e queremos que o concerto seja mais “à frente”: estamos a falar de um concerto de luzes, de quase coreografia em palco… Eu acho que cada vez há mais oferta de música, cada vez há melhores bandas, e por isso queremos inovar no espectáculo ao vivo, quase que tornando-o num teatro musical. O concerto de lançamento será em princípio no final de Abril e também em princípio no LX Factory, pelo menos é o que hoje está apalavrado, e aí sim vamos dar um cheirinho daquilo que será o nosso Verão. É claro que quantos mais concertos nós damos, melhor ficará. Para o ano, quando dermos um concerto, de certeza absoluta que a coisa vai ser muito mais grandiosa do que será agora.

Filipe Contente – A visão que temos para o nosso projecto é muito própria, e nós achamos que hoje há muita coisa que não sendo mal feita, é mal encaminhada... Nós tornamo-nos numa banda 100% independente neste momento, porque percebemos que ninguém faz melhor o nosso caminho do que nós próprios. Não temos como ambição ser a melhor banda de Portugal nem nada assim, queremos é estar cá por muito tempo, queremos construir uma carreira. E para conseguirmos isso temos que mostrar cada vez mais e mais qualidade em tudo o que fazemos. E foi por isso que fomos gravar um disco com o nosso dinheiro, com uma produtora que tem dois Grammys, que gravou Johnny Cash, Foo Fighters, Smashing Pumpkins, Prince e por aí fora… Quanto ao espectáculo ao vivo… nós demorámos, se calhar, o primeiro álbum todo a conhecermo-nos melhor enquanto banda e neste álbum sentimos a confiança para evoluirmos um bocadinho a nível musical. O álbum está mais rock, está muito mais produzido, e queremos transpor essa qualidade que exigimos para o álbum, agora para o espectáculo ao vivo. Temos o objectivo de nos surpreendermos a nós próprios e sobretudo surpreender o público.

Isso é uma aposta fortíssima e exige uma fé tremenda em vós próprios, não é? É difícil?

Diogo Dias – É, sobretudo quando vemos em Portugal bandas com álbuns inacreditavelmente bons que ficam de lado. Não passam nas rádios, não há concertos, e eu acho que por causa dos vícios do mercado português... Isto vai bater no que o Filipe dizia da nossa independência relativamente a managers externos; isto permite que a entrega seja maior, porque das duas uma: ou vencemos, ou não vencemos. E temos que vencer. E o Filipe enquanto nosso manager tem essa garra e isso permite-nos acreditar de facto a 100% no projecto, bem como a fazermos um segundo álbum que resultou exactamente naquilo que queríamos, e o qual acreditamos que tem um potencial forte.

Filipe Contente – Tem a ver com uma coisa que tu disseste e que nós sentimos mesmo: nós queremos fazer música, não queremos fazer mais nada. Não queremos ser estrelas e não queremos ter destaque por outras coisas que não a música, e procuramos sempre esse caminho. Por isso é que no nosso primeiro álbum estávamos preocupados que as pessoas conhecessem a música; não pelas caras, nem por ter lá o Diogo da MTV... E por isso é que nesse álbum ninguém vê quase a nossa cara. Nós sabíamos que o projecto ia ser alvo de críticas por ser a banda do Diogo da MTV, e teremos sido prejudicados por isso, e a nossa forma de o contornar foi escondermo-nos e só mostrar música. Nós neste momento temos cerca de 2 anos de mercado português e 6 singles nas rádios – quatro do primeiro álbum e agora 2 deste novo – e sentimos que isto por si já é inédito, sentimos cada vez mais a coisa a crescer enquanto banda.

Uma coisa que nós gostávamos é que este projecto corresse bem e, com este, outros projectos paralelos. Porque há mercado em Portugal; é fraco, mas há mercado. Está é muito mal direccionado. Eu não gosto de dizer mal de nada... mas pega por exempo nos “Ídolos”: um programa de televisão, é bom, os jovens vão para lá cantar, mas a verdade é que aquilo rouba mercado às bandas portuguesas e à música portuguesa. Rouba um grande mercado...

Mas há o pessoal com educação e formação musical que concorre aos “Ídolos” porque vêem ali uma via muito mais garantida, e se calhar um caminho muito menos penoso, do que aquele que vocês optaram por trilhar….

Filipe Contente – Isso é a mania do caminho fácil e os caminhos fáceis nunca são os melhores. Se alguém quiser fazer música séria e quiser fazer realmente parte da música, tem que seguir o seu próprio caminho, porque ir atrás dos outros…

Diogo Dias – Sinceramente o que me dá pena – e agora vamos nós bater na tecla dos “Ídolos” não sei quantas vezes – é que há grandes talentos ali, mas acaba o programa, vão fazer uma tournée, e depois? O que é que é feito das pessoas que ganharam os outros “Ídolos”, e as “Operações Triunfo”? Porque é que só o João Pedro Pais, a Sara Tavares e poucos mais realmente venceram na música? É porque se calhar não os preparam bem para tudo o que vem a seguir.

É o efeito “Big Brother”…

Diogo Dias – Exacto, é um bocado um voyeurismo que depois se esquece: já está usado, deita fora…

Filipe Contente – Nos anos 70, 80, 90, havia bandas. E depois perdeu-se a moda das bandas. Agora começa a aparecer de novo. Seria preciso mudar um bocadinho o mercado. O problema é que as pessoas que controlam o mercado são aquelas que eu acho que menos conhecem o mercado e aquilo que o mercado precisa a sério.

Vocês foram para os EUA à procura de quê? Experiência pura? Melhores estúdios? Melhores meios de captação?

Filipe Contente – Fomos um bocadinho à procura de tudo. Isto foi assim: o Francisco é técnico de som, e um dia só para brincar enviou o nosso primeiro disco para uma data de mestres da produção. Ninguém respondeu com excepção da Sylvia Massy, que disse, antes do Verão, que gostou muito, mas nós olhamos para a resposta, dissemos “que giro, gostou muito”, mas no fundo desprezamos aquilo. No fim do Verão ela insistiu e disse para nós irmos, e nós aí respondemos que não tínhamos dinheiro para isso. Ela acabou por fazer um desconto enorme, nós fomos propor à editora, a editora despediu-nos, dizendo que não acreditava no disco. Isto sucedeu 2 meses antes de irmos para os Estados Unidos e pensámos inclusivamente em desisitir. Mas depois dissemos: “Não, isto ninguém nos tira!” e fomos à procura de dinheiro. Lá o conseguimos, emprestado por um amigo ali, através de um patrocínio acolá, cada um de nós meteu também algum, e fomos. E a verdade é que ela gostava mesmo daquilo e a experiência correu bem porque nós sentimos que estávamos a ter a primeira experiência com um produtor que gostava mesmo do que estava a fazer. Nós cá trabalhámos com outros produtores, como o Mário Barreiros, que não se sentiu entusiasmado com a nossa música, o que nós percebemos perfeitamente e respeitamos. Mas ela gostou mesmo e ela tem dois Grammys, e ela lançou aquela gente toda, portanto pensámos “temos que ir”. Acabou por correr tudo bem e por ser toda uma sucessão de coisas certas no momento certo.

E o que é que perspectivam para logo à noite e para o futuro próximo?

Diogo Dias – Nós achamos sempre que é especial tocar no Porto, sentimos que no Porto as pessoas gostam realmente de música, e logo aí sabemos que vamos ter um público não mais nem menos exigente, mas diferente.

Marco Reis – A última vez que tocámos cá foi na Queima das Fitas, quando abrimos o espectáculo dos Xutos, e esse foi o grande concerto que demos até hoje. Esperamos que a noite de hoje seja mais uma noite de loucura.

Diogo Dias – Em relação ao nosso som: nós tivemos uma experiência inacreditável nos Estado Unidos e deixando falsas modéstias de lado, acho que temos um álbum excelente. No primeiro álbum nós acreditávamos nas 11 músicas e na nossa opinião qualquer uma delas poderia ser um single – e tanto assim foi que conseguimos ter 4 singles dessas 11 na rádio – mas esse álbum foi gravado de uma forma crua com muitos problemas durante a gravação. Desta vez houve uma grande harmonia durante a gravação, evoluímos como músicos e como pessoas, e acho que temos um álbum muito mais coeso. Quem gostou do primeiro tenho quase a certeza absoluta de que vai gostar mais deste. Quem não gostou do primeiro, pode aqui descobrir uns novos KLEPHT. As pessoas têm de se deixar de complexos na música. Na música de hoje vive-se um pseudo-intelectualismo no qual se ouve pouco e se fala muito, e acabam por se criticar bandas sem sequer as ouvir. Há um caso conhecido de uma crítica que surgiu há muitos anos atrás no Blitz a arrasar um determinado artista num concerto, quando esse concerto tinha sido cancelado. Hoje em Portugal, um nome permite-nos ficar catalogados e acho que as pessoas têm que abrir um pouco a sua mentalidade. É possível ouvir um disco do Tony Carreira e tirar dali coisas boas. Ou então ir buscar a banda mais alternativa que existe à face da Terra, e na generalidade não suportares aquilo, mas lá no meio existe uma coisa interessante. Esse foi um exercício que nós fizemos para este álbum: andámos a ouvir tudo o que eram bandas, mesmo as que nós não gostávamos, porque em todas as bandas há fases boas e em todas as bandas há coisas que tu vais gostar. E é assim que tu vais enriquecendo na música.

Filipe Contente – Uma coisa que eu não achava antes mas que acho hoje é que um músico tem de conhecer a música desde o início, ou quase. Não há música boa nem música má; há música diferente. Quem gosta de rock, não pode não conhecer Beatles; se não não sabe o que é que o rock está cá a fazer... Nós fizemos isso e fomos buscar as nossas referências, umas que gostamos mais, outras que gostamos menos. E isso enriquece-nos sem nos apercebermos, acho eu.

Diogo Dias – Tentem conhecer o novo álbum. É isso que nós pedimos às pessoas.
E nós também.


ENTREVISTA DE : RUI VAZ E SARA SALGADO



A CRITICA AO CD "HIPOCONDRIA", AQUI POR RICARDO COSTA


1 comentário:

  1. Anónimo7.5.10

    os klepht são das melhores bandas portuguesas..para mim a melhor sem duvida. Espero que alcancem o sucesso mt merecido.

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