NADADORES DE INVERNO

NADADORES DE INVERNO NO S. JORGE, EM LISBOA

Uma amostra do que está para vir...


Como todos sabemos e/ou vamos descobrindo, há música que passa no tempo e há música que marca o tempo em que passa.
A partir da meia-noite de sexta-feira passada pude assistir à apresentação de mais música que marca o meu tempo. E foi uma trip, de transporte imediato a outra dimensão.
O mais relevante não é o nome do projecto, mas as pessoas que o fazem nascer. Também todos sabemos que o projecto Três Tristes Tigre nasceu da vontade de Ana Deus, Regina Guimarães e Paula Sousa, passando, depois da saída de Paula Sousa, a contar com a presença de Alexandre Soares assumida na guitarra. Isto, se quisermos ficar agarrados ao número três e à presença de tigres na banda (ao longo dos anos tenho notado no que leio sobre a banda que, com um nome como três tristes tigres, parece haver necessidade de fazer corresponder um elemento a cada tigre... ou vice-versa. Nope, isso não era relevante, nem as contas se fazem assim...) Mas tudo isto é história. Agora, as contas são outras, os Nadadores de Inverno estão a anos-luz de distância do que são os Tigres, com todos os elementos bem mais apurados: uma voz cada vez melhor que dá tonalidade e corpo a conjuntos de letras que formam palavras que saem da fenomenal criatividade de Regina Guimarães e ainda uma guitarra cada vez melhor. E foi esta guitarra que fez arrancar o Osso Vaidoso no São Jorge, desta vez.
O arranque foi dado por Descapotável, versão 2010, uma das favoritas desde o Partes Sensíveis. Uma canção de amor, tão orgânica e visceral como uma boa canção de amor deve ser. Depois, foi a vez de Dejà Vu, um conto cantado sobre eternas repetições de eternas repetições. Seguiu-se Elogio da Pobreza – se fosse eu quem mandasse, esta havia de passar obrigatoriamente todos os dias nas rádios nacionais, mesmo depois de ser número um do top de singles nacionais... mas não sou.
A quarta investida foi a adaptação de Regina Guimarães da Venus in Furs, dos Velvet Underground, dada originalmente a conhecer num dos cd oferecidos gratuitamente pela fnac num dia da música, em 2005. Se nunca ouviram, não sabem o que estão a perder. Literalmente.
Entretanto, chegou a vez de Pas Perdus, uma canção que tem vindo a perder cada vez mais francês e a ganhar cada vez mais português – algo raro de ouvir, nos dias que correm. Sei que a minha memória me prega partidas, mas podia jurar que já a ouvi com bastante mais linhas de texto em francês. Em Famalicão, talvez? A seguir a Pas Perdus foi a Ponto Morto, que juntamente com a Desnorte que se fez ouvir mais à frente na noite, demonstrou bem demonstrado que Alexandre Soares expõe cada vez melhor a alma da guitarra que tiver nas mãos. Mas antes da Desnorte, fomos presenteados com a Abeto, uma canção baseada em factos verídicos sobre a história de um homem que descobriu que tinha um abeto a crescer dentro do pulmão.
Logo depois de Abeto, foi a vez de Homo Faber, uma canção que pode ajudar a responder à pergunta sobre o que são tendências sexuais. Ou não.
A seguir a Desnorte, com a sua laranja azul (empanquei com isto, não sei porquê…), foi apresentada ao vivo a Cacofonia, uma canção sobre excessos. Esta canção seria um outro formidável single para rodar sem parar por aí. Como estamos em Portugal, vamos ouvi-la ao Youtube, que também é bom.
E em aparentemente poucos segundos, chegou-se de repente ao fim. Todas de seguida, a Descapotável, a Dejà Vu, a Elogio da Pobreza, a “Vénus em Peles”, a Pas Perdus, a Ponto Morto, a Abeto, a Homo Faber, a Desnorte e a Cacofonia, mostraram bem para quem esteve presente no São Jorge que a Voz de Ana Deus e a Guitarra de Alexandre Soares estão cada vez melhores.
Como, obviamente, quem lá esteve queria sempre mais, foi-nos ainda oferecida a Olho da Rua, versão 2010, e um excelente último delírio de guitarra para aquela noite.
Nada do que se possa escrever pode descrever sequer de longe tudo o que se ouviu no São Jorge. Os músicos prenderam a audiência do princípio ao fim, sem a mínima hipótese de fuga. Surpreendeu-me ver tanta gente a fotografar e a documentar em vídeo. E, apesar de como Regina Guimarães disse, haver uma representação tripeira considerável, a sala estava bem cheia de alfacinhas também.
São precisos mais concertos destes. Mas o facto deste ter acontecido já me fez ganhar o ano.

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