GRIZZLY BEAR
Cibelle
Coliseu do Porto, 27 Maio 2010
Não será exagero algum, afirmar que se trata de um nome há imenso tempo desejado nos palcos nacionais.
Uma banda que tem a sua base o folk, nada temeu em termos de experimentação e a cada trabalho multiplica o nº de seguidores, sim porque Grizzly Bear dificilmente provoca indiferença, trata-se de sentar com tempo reservado para se lançar na sua audição mais do que uns conjuntos de temas com qualidade. É reconfortante sentir que o conceito de “álbum” sobrevive graças a bandas como esta.
Dito isto, temia-se que a dimensão de um coliseu fosse algo prejudicial para esta banda, sendo que a frieza de uma sala destas dimensões, junto com uma previsível baixa adesão em termos de comparência do público por diversas razões, seria fatal.
Mas isso é óbvio e comum a todas as bandas, pode-se dizer, mas as criações Grizzly Bear vivem de pormenores, de todo um equilíbrio entre linhas vocais e arranjos que facilmente se adivinham frágeis ao vivo. Nos comentários que escorriam por entre as poucas almas que pela entrada do Coliseu passavam, isso era claramente uma preocupação como que existisse uma vontade de proteger o colectivo.
O público português é conhecido pela sua paixão mas também pela sua exigência, e esta seria uma prova de fogo, e todos sabiam disso. Apesar das reacções excelentes á actuação no dia anterior em Lisboa, a tarefa adivinhava-se difícil.
Para reconforto de todos ali presentes, a sala foi-se compondo, e as cadeiras acolhiam quem no final da noite, levaria algo de forte para casa: orgulho ou desilusão.
Com um atraso significativo, fomos agraciados pela bela e espalhafatosa Cibelle, uma artista brasileira há muito radica em Londres.
Por todo o lado é referida tal “bomba no palco”, rica em influências exóticas, sonoras para além de indumentárias, bandas sonoras, e uma forma muito intuitiva de se expressar, entre o kitsch e tudo o que se pode imaginar dentro do género.
Promove o seu 3º álbum “Las Venus Resort Palace Hotel”, agora dando forma ao seu alter-ego Sonja Khalecallon.
Curiosa personagem no mínimo. Participou no “Femina” do nosso Legendary Tigerman, e a sua prestação prometia qualidade.
A desilusão instalou-se aos poucos. Literalmente escondida por detrás de um microfone enfeitado tal árvore de Natal, acho que a artista apenas foi vista pelo público na sua entrada e saída exuberantes, na sua farda tipo boneca de trapos e leque a condizer.
Com uma performance vocal completamente apagada, excepto num par de momentos, apenas teve piada o seu discurso onde agradeceu o copo roubado algures nas margens do Douro, e onde tivemos a explicação para a sua pobre prestação.
De positivo, o humor e a versão do tema “Bein’ Green” que da “Sesame Street” foi interpretada de forma especial por Sinatra em 1970.
Curta actuação que foi medianamente bem recebida, graças aos temas brasileiros e a umas gargalhadas soltadas em especial na sua imitação da famosa pose de Xuxa.
Uma oportunidade falhada sem dúvida, de mostrar a sua qualidade como ser criativo e performer única. Aconselho uma visita ao seu último álbum aqui “semi-apresentado”.
Após um intervalo algo longo mas que foi o ideal para a preparação da audiência mais do que propriamente o palco.
Surgem os músicos, que rapidamente tomam as suas posições, alinhados ficando bem clara assim uma continuidade do que se ouve nas suas criações: uma coesão sem truques óbvios e comuns.
Admirável a forma como as vozes se alinham, como as passagens das mais simples às mais exigentes surgiam “tal e qual”, mesmo tendo cada um dos músicos outras tarefas a desempenhar a cada momento. Uma verdadeira lição de rigor e devoção pela MÚSICA.
No centro, as vozes de Edward Frost (o homem que começou isto) e Daniel Rossen distinguem-se, mas os coros não ficam atrás. Impensável a exactidão dos temas… quem os conhece sabe do que falo.
Abriram com Southern Point e a leveza que se tornou a marca dos Grizzly Bear estava toda ali, e todos podíamos enfim respirar de alívio: seria sem dúvida uma daqueles concertos onde daqui a uns anos poderemos dizer com orgulho “estive lá” ou algo do género.
O tema do momento, Two Weeks teve a participação de Cibelle, que foi nada menos que fantástica.
Foi interessante ouvir “Fix It” o único tema que foram pegar do 1º álbum “HORN OF PLENTY”, na sua fase mais experimental.
“Colorado” trouxe o lado rock e os seus riffs e euforia que mostrou que estes tipos não fazem nada ao acaso. Destaque para a bateria de Christopher Bear, sempre com pormenores deliciosos, e para o baixista Christopher Taylor que tem uma forma muito peculiar de construir as suas linhas rítmicas.
De forma natural, os quatro elementos da banda faziam escorrer os temas que de forma inexplicável de repente passaram de hinos para alguns para o mainstream e tudo que isso implica.
Em muito ajudou o último álbum “VECKATIMEST, onde foram buscar o tema com que fecharam a noite em jeito de encore, numa fabulosa versão acústica de “All We Ask”.
Foi como disse, um concerto memorável, onde o publico esteve em sintonia absoluta com a banda de Brooklyn, que por sua vez se entregou completamente como se as suas vidas disso dependessem.
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