Melody Gardot

Melody Gardot

Casa da Musica, 6 Julho 2010




Ter o prazer de se viajar sentada, por emoções, estados de alma, países e culturas, não acontece frequentemente.

Na passada terça-feira, na casa da música, Melody Gardot ofereceu prazer que não se pode explicar por palavras a uma assistência que acabaria por deixar a sala completamente rendida e apaixonada por Melody e os seus “boys”, como referiu.


O concerto inicia num instrumental bastante místico, com os músicos envoltos numa névoa, e uma diva, com um misto de Audrey Hepburn e Marilyn Monroe ao piano. Com ar de gata borralheira em última fase de transformação e um encanto muito próprio.


“1,2,3,4” ouve-se numa voz sensual, “The rain”, música do último álbum de originais, cuja apresentação era o motivo da vinda a esta sala. Seguida de “Your heart is as black as night”, que foram protagonizadas intensamente pelo saxofonista Irwin Hall, que junto com os restantes músicos, e em igualdade de mestria de execução, ajudaram a abrilhantar toda esta noite, e a descolar neste voo, em que a própria Melody se assume como hospedeira de bordo. Com um convite muito sensual e imaginativo.

Continua com um medley muito interessante, em que combina uma música de sua autoria e que dá nome ao seu anterior álbum de originais “Worrisome heart”, com a “Love Supreme” de John Coltrane e “You really got me” de The Kinks. Vemos aqui, e no final desta performance com a sua intervenção, que “music is an universal language”, e esta apropriação demonstra mesmo isso, três músicas, com um toque próprio, transmitem o “amor” de Melody Gardot.

Depois desta viagem e associação de ideias, direcciona-se pela segunda vez á plateia, “i’m gonna be your mistress and misguide”, seguiremos viagem, em crescendo e decrescendo, não de qualidade, mas de ritmos e intenção, com variados clímaxes ao longo de toda a noite, e flirts de sedução e romantismo, ou não fosse o álbum e a própria Melody, esse apelo ás emoções que não conseguimos descrever, ao amor inexplicável e intenso.


E somos levados numa viagem a Paris, com a musica Les Etoiles, mais uma vez com uma fantástica introdução preconizada pelo saxofonista, que articula um truque, em que toca dois saxos ao mesmo tempo, alto e tenor, acompanhado pela percussão. Temos nesta introdução, os “bumps” que nos prometeu, suave, mas com momentos de profunda excitação. Entra o violoncelo, em tom triste e de luto, fazendo a passagem para a voz melodiosa de Melody, e as luzes direccionadas ao público, um acariciar subtil, como se fossem essas as estrelas da noite.


O resto da noite segue neste orquestrar constante de emoções, com momentos mais harmoniosos e ternos, como com “Baby I’m a fool”, ora com momentos mais quentes e cheios de ritmo bossa nova, e uma viagem até ao Brasil em “If the stars were mine”, intercalado por momentos mais frios, mas igualmente intensos, e também ingressões por música clássica pelo violoncelo.


Chegamos ao interregno da viagem com uma maior interacção com o público, e um pedido de participação na música “Who will comfort me”, ao qual este acedeu entusiasticamente.


Já no encore, depois de revisitarmos Janis Joplin e o seu Summertime, Peggy Lee e Fever, em mais uma mistura de palavras e significados musicais, assistimos a uma “ Over the rainbow” de Judy Garland, muito apelativa, reconhecível, mas mais emocionante, livre e musical, a deixar-nos com sabor a Brasil e liberdade.

Uma noite bastante heterogénea musicalmente e culturalmente. Passámos por Cabarets, Cafés Parisienses, ruas do Brasil, Orquestras, anos 60 e o rock n’roll, o feiticeiro de Oz... todos estes caminhos percorridos de forma exclusiva, como não poderia deixar de ser, com esta senhora e os seus 4 boys.

O poder de sedução e envolvimento transmitido neste espetáculo, deve-se a Melody no seu estilo muito próprio (Modern-day dame), que pode relembrar vários artistas da cena musical desde Judy Garland e Janis Joplin, a Cat Power (e não tanto Norah Jones e Diana Krall como se quer fazer pensar), como aos músicos que a acompanham neste quadro musicalmente completo.































Set list

“The Rain” My one and only thrill

“Your heart is as black as night” My one and only thrill

Medley

“Worrisome heart” Worrisome Heart,

“A love supreme” John Coltrane cover

“You really got me” The Kinks cover

“Les étoiles” My one and only thrill

“Baby I’m a fool” My one and only thrill

“If the stars were mine” My one and only thrill

“Deep within the corners of my mind” My one and only thrill

“Love me like a river does” Worrisome Heart

“My one and only thrill” My one and only thrill

“Who will comfort me” My one and only thrill

Encore

Medley

“Summertime” Janis Joplin cover

“Fever” Peggy Lee cover

“Over the rainbow” Judy Garland cover

“Caravan” Duke Ellington cover

Fica a vontade da edição de um álbum ao vivo.




Texto: Maria Manuel Rola

Fotografia: Ricardo Costa

AGRADECIMENTOS:

Everything Is New


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