NOUVELLE VAGUE

NOUVELLE VAGUE
CAE S. MAMEDE
GUIMARÃES
24 MARÇO 2010






Um concerto acústico de uma banda onde esse factor é já de si um componente, a curiosidade e expectativa eram bastantes.



Na base desta banda francesa, estão os músicos/produtores Marc Collin e Olivier Libaux, e por onde tem passado várias vozes femininas, algumas delas hoje fazendo mesmo parte do “renovamento da canção francesa, como é o caso de Melanie Pain ou Camille Dalmais cujos álbuns a solo tem vindo a acumular óptimas críticas e vendas (tema “le festin” no filme de animação Ratatouille), entre outras.




Qual a premissa? Realizar versões de temas punk e new wave dos anos 70 e 80, vestidos de “bossa nova” com trejeitos de “pop aos saltinhos”, e ultimamente até com toques de “country” e afins



Músicas de bandas como The Clash, Joy Division, Dead Kennedys, Depeche Mode, Eurythmics, The Stranglers, The Police, etc etc, são a sua matéria-prima. Com roupagem bastante acústica e rítmica bem solta, de forma a que ganham efectivamente uma lufada de ar fresco aos temas clássicos por (quase) todos nós conhecidos.





Para abrir, Gerard Toto, uma figura aparte. Uma presença descontraída, com uma boa dose de humor que não sendo óbvio, facilmente cativa o publica.



Encontra o seu mundo em ritmos algures entre sons brasileiros e todos os outros. Ou seja, ele toma como seu todo um leque de sonoridade como jazz, R&B, soul, vários sons crioulos, fundindo tudo em algo que flui naturalmente, mesmo com pitadas mais ou menos presentes de “recados” políticos ou uma ironia bem doseada.



A formação que se apresentou inclui a cantora australiana Nadeah Miranda, com a sua personalidade arrojada e atrevida. Esta menina brinca claramente com a libido da audiência, ao mesmo tempo que tem uma voz muito interessante, ora forte ora sensual. É um animal de palco, e dos selvagens, para deleite de quem a tem visto nesta banda. Tem marcado o público como talvez nenhuma das várias que passaram por esta banda. Não tem a melhor voz entre delas, tecnicamente falando, mas ocupa o seu espaço como nenhuma.



A outra voz foi da belga com origem portuguesa, a bela morena Helena Noguerra, que falou português durante a actuação, por entre temas e brincadeiras, o que aproximou ainda mais o publico que se rendeu sem resistência a esta dupla de vocalistas.



Eu diria que a presença de Nadeah, tal felina loira consciente do seu encanto, contrasta na perfeição com a portuguesa morena elegante e contida. Mais uma jogada bem sucedida dos mentores Marc e Olivier.



Abriram com “So lonely” dos The Police, servido com a delicadeza devida. Os momentos altos seguiram em “To drunk to fuck” dos Dead Kennedys, passando por um “God save the Queen” a mundos da rudeza do original dos Sex Pistols, mas igualmente irónico. Fecharam com um tocante “Love will tear us apart”, este sim, o tema da noite.



Voltaram para 2 encores, onde a fatiga era evidente, mas ainda brilharam num “Relax” dos esquecidos Frankie Goes To Hollywood, e no final com “I melt with you” dos Modern English. Sentiu-se a falta de percussão durante todo o concerto. Não fossem as traquinices das vocalistas, a coesão sonora correria risco, ficando assim para 2º plano. Para quem lá foi apenas pela musica, alguma desilusão ficou no ar.



A banda em palco: os “mentores” ficam um de cada lado do palco, onde colocam duas beldades no centro das atenções, a debitarem todo o seu potencial vocal e não só. A formula funciona tão bem hoje como no inicio, com a diferença que agora não é novidade, e isso começa a notar-se. Esse facto é compensado pelo lado teatral da actuação, e pela constante mudança de temas e de roupagens que lhes são dadas.



Para quem não conhece os originais de grande parte dos temas, tudo corre bem, mas no caso contrário, junto-me á opinião crescente que a febre “Nouvelle Vague” neste formato, tem pouco mais pavio para queimar.



Mas, tem também, tudo para se reinventar, e quem sabe, uns temas originais ajudem? Nesta época revivalista no entanto, tem muita estrada para fazer sem sobressaltos á vista.



Uma banda (quase) obrigatória para quem nunca a viu em palco.

















TEXTO : RICARDO COSTA
FOTOGRAFIAS : HUGO SOUSA, I.A.C.

AGRADECIMENTOS
CAE S. MAMEDE GUIMARÃES

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