CAZINO NA TERTULIA CASTELENSE

CAZINO

ENTREVISTA E REPORTAGEM
TERTULIA CASTELENSE, MAIA
27 MARÇO 2010




Os Cazino quase dispensam apresentações, tendo na sua formação membros com currículos invejáveis (Bandemonio, Fintertips, Mundo Secreto entre outros), e todos são músicos de grande qualidade, e o palco é mesmo o seu habitat natural.



Em mais uma noite de Sábado, animada como de costume, num espaço onde a música está sempre presente desde que se entra, deram inicio a sua apresentação, sem teclista, frente a uma audiência acolhedora e para quem alguns dos seus temas não eram claramente novidade.

Com a sala cheia, fizeram rolar o seu som pop/rock e a sua sonoridade BritPop assumida e cuidadosamente trabalhada.
Abriram com “Ideal de um “Ideal”, e rapidamente se adivinhou um concerto onde ninguém iria sair sem um sorriso no rosto.

Músicos com muita estrada, para quem encarar um publico é tão natural como respirar.

Quando se ouviram os primeiros acordes de “Lição de Voo”, a voz familiar do carismático Duda encheu a sala e pouco a pouco, aqui e ali, outras vozes se juntaram. Este tema tem passagem numa novela, o que a expõe de forma muito directa e vasta.

E sobem o ritmo com o que deve ser o 2º single, “Cabra Cega”, um tema animado a lembrar uns Beatles bem dispostos, com arranjos e vocalização bem rock dos 60’s. Certas passagens, muito graças a forma como Duda coloca a sua voz, fazem lembrar Coldplay.

Uma verdadeira maravilha, ver estes músicos trabalhar em palco. O som ao vivo, é bastante menos doce que em CD, isso garanto. As composições soam bem mais rock, com um look e poses a condizer.

Um concerto onde nada falhou. Missão cumprida. Sabem o que querem e o que fazer para lá chegar.


Entrevista

Fui encontrar o Alexandre Almeida e o grande (literalmente) Duda bem dispostos, ou melhor, encontraram-me eles, com um sorriso e optimas impressões da IMAGEM DO SOM com que ficaram de uma reportagem feita pelo nosso colega Nuno Jorge no espaço lisboeta MusicBox.
Chegados ao “camarim/backstage/de tudo um pouco”, a conversa ia já longa e animada quando dei inicio oficial á entrevista, que nesta altura era definitivamente informal.

Contem-me lá história dos Cazino: como e quando tudo começou, o desenrolar dos eventos até ao álbum Metamorfose…

Alexandre- Basicamente, nós vimos de várias bandas, alguns de nós já têm um percurso de mais uma década na música, nomeadamente eu e o meu irmão que já passamos por bandas como os Bandemonio, Fintertips, Mundo Secreto, EZ Special, etc. Na altura tínhamos uma banda que eram os Honey Bee, quando fomos tocar para os Turbo Junkie, depois fui tocar para o Abrunhosa, e desde aí fomos sempre tocar em projectos de outras pessoas, mas ficou sempre aquele bichinho de voltar a ter uma banda nossa.

E nesse sentido, faltava-nos uma pedra basilar, dado que ambos somos compositores, faltava-nos mesmo a tal peça vital, que era um vocalista. Andei 10 anos com atenção em todas aquelas cenas tipo concursos, e esse tipo de cenas, á procura de alguém. Não ia procurar nos músicos profissionais onde me inseria, não ia procurar nos Blind Zero, ou nuns Ornatos, e etc entendes, ia ver em bandas desconhecidas que pudessem ter alguém que me interessasse, até que um dia fui a um local mesmo ao lado de minha casa, que era o Bla Bla. Era o Termometro Unplugged, e á 3ª banda entrou uma figuraça por lá dentro que sem ele cantar já fiquei de olho e durante o concerto disse-me “eh pá, é disto que eu ando á procura há 10 anos!” que é o Duda. Nesse dia não o consegui apanhar. Depois estava a tocar com os Mundo Secreto, na Oficina da Musica, e perguntei ao Daniel se conhecia um tipo assim e tal, e ele estava a tocar com o Duda nuns originais. Não posso deixar de mencionar aqui o Domingos que foi nosso teclista.

Ou seja, o motor fui eu e o meu irmão, procuramos a peça que faltava para completar o puzzle para pudermos começar a trabalhar a nível de composição que foi o Duda e acabamos por fechar a formação ali, também com o Daniel, que é baterista, mas acima de tudo um excelente musico e compositor, que neste caso assumiu o papel de baixista.

A 1ª música na qual trabalhamos, que é a ultima do disco, deu para entender logo ali que havia a tal química e tudo para se trabalhar a sério com os requisitos que nós procuramos na musica.

Duda- Acho que apesar de tudo, podemos ter músicos muito experientes, como o Alexandre, o Nuno e até o Domingos, mas ao juntares as peças todas podia acontecer simplesmente as coisas não funcionarem, mas o processo de dar inicio á banda como Cazino foi uma coisa muito rápida, mesmo muito rápida, dada a química e naturalidade com que as coisas iram acontecendo.

As influencias, a julgar pelo vosso som, são das mais variadas. Falem-me disso e da forma como conciliam as várias paixões musicais de cada membro da banda.

Alexandre- Sim é uma mistura muito eclética, mas também é essa diferença que creio fazer a mais valia dos Cazino. Temos muitos pontos em comum, nomeadamente os Beatles, os Stones, Zeppelin, Franz Ferdinand, Muse, mas depois cada um de nós tem o seu estilo mais acentuado, como eu que gosto de cenas mais antigas, o Duda já gosta de coisas mais recentes… e tudo tem o seu lugar e importância.

Duda- Acho que todos temos pontos em comuns e diferenças, mas as semelhanças acabam por ser fio condutor, e penso que o que é reflectido no nosso trabalhado, é o tal equilíbrio como resultado final.

E as influencias do Duda particularmente quais são?

Alexandre- Muse, Arctic Monkeys, Franz Ferninand…

BritPop actual portanto…

Duda- Sim, acho que os “Brits” reinam absolutamente, respeito muito também o trabalho dos americanos, e também música clássica.

Alexandre- Ouvimos muito os Wolfmother, que é uma banda australiana…

Com esta validade, digamos curta, das chamadas modas, como encaram o mercado e a forma de estar nele?

Alexandre- Nós não damos uma única nota a achar que é o correcto, damos sim as notas que queremos dar, que nos sentimos bem a dar e fazemos antes de mais a musica que nos vem na alma. Se tem uma consequência comercial muito bem. Não fazemos nada a pensar que isto é que vai dar, é o que vai bater. Agora como pessoas atentas e que acompanham a música hoje em dia é obvio que em dada altura sabemos o que está a dar e vamos ouvir claro. Por exemplo os Arctic Monkeys e Franz Ferdinand, só quem estiver a dormir é que não conhece o trabalho desses artistas, porque isso é ficar para trás. Nós acima de tudo entramos na sala de ensaios para fazer a musica que sentimos e não apenas algo que seja vendável.

A ideia geral é que são uma banda pop “limpinha” digamos, no entanto, os temas ao vivo resultam num som mais rock, mais directo. É propositado?

Alexandre- Claro, mal de qualquer banda que levasse para o palco o que se ouve no disco não é? Mas sim, tens razão, o álbum faz passar essa ideia, mas ao vivo somos muito mais rock. Para ouvirem o mesmo as pessoas ficavam em casa no conforto. Somos bem rockeiros. Mas temos essa noção, o nosso disco é muito mais polido, muito mais pop. Mas foi consciente. Ao vivo tens aquele contraste, um “boost” entendes? Nós criamos um espectáculo em que tentamos que haja um ritmo, inclusive não fazemos pausas entre temas, para manter essa força.

Duda- Eu acho que também é isso que traz as pessoas aos concertos, é mais uma forma diferente de ouvir os temas.

Em relação á forma de compor, as escolhas, como é que isso acontece?

Alexandre- O processo criativo dos Cazino foi assim: acontecia chegarmos á sala de ensaios já com uma letra, com uma estrutura, e a banda interfere em termos de arranjos, como aconteceu o contrário, não haver nada pensado, começa-se a tocar e as coisas naturalmente saírem entre os quatro.

Duda- Existe muito respeito entre os músicos dos Cazino, pela sua experiencia etc, e é claro que quando se está a ter algum bloqueio, ter ali alguém com um talento incrível e com o qual tu te identificas, torna as coisas muito mais fáceis.

Este álbum tinha uma missão específica, ou seja, foi mais um álbum de planeamento ou espontâneo?

Alexandre- Antes de mais, este é um álbum autobiográfico. Onde falamos das nossas experiencias, das nossas preocupações, das nossas concepções do que deve ser a sociedade, encitamos as pessoas a perseguirem os seus sonhos, mas como se falou há um bocado, foi a tal química a funcionar, o aproveitar de todos os momentos e não pensar muito nas consequências. Mas é consciente e assumimos o facto que queremos ter uma carreira longa e ser uma referencia no panorama musical nacional, foi isto que nos propusemos.

Existe portanto uma componente comercial?

Alexandre- Neste momento vou-te dizer uma coisa… o ser comercial ou não é uma questão muito ténue. Eu já estive em bandas, e eras a cena mais alternativa do mundo e de repente porque uma rádio pegou num tema e começou a rodar ou algo do género, e de repente, já és a coisas mais comercial do mundo! Com as mesmas musicas, mesmos músicos etc.

Nós antes de mais, queremos fazer disto a nossa vida, a oportunidade de aparecer, de tocar. Todos os dias que temos a hipótese de acordar e fazer música é uma bênção, é assim que encaramos isto.

Nome do álbum “Metamorfose”, porquê? Em relação a quê?

Duda e Alexandre- No fundo refere-se a todo o processo, sabes. Desde o facto de 4 pessoas que não se conheciam, criarem algo, o próprio processo criativo em si, e da forma como afectou cada um, até ao facto de se chegar a uma conclusão, e essa metamorfose continua não é? Achamos que é aí que reside a identidade do álbum e da própria banda.

Em relação a um futuro álbum, já existem coisas pensadas, material no forno, em que ponto está isso?

Alexandre- Como te dissemos, quando acabamos este disco ficamos com mais temas de fora dos que os que entraram. Entretanto já surgiu outro tanto, nós trabalhamos todos os dias, é uma coisa séria [ Duda- Já apresentamos ao vivo um dos temas novos ], não paramos de compor, e temos material mais do que suficiente para fazer outro disco, mas é obvio que as questões logísticas, isto é, não é só a nós que nos compete. Somos como que a ponta do iceberg. Entretanto continuamos a desenvolver e a apurar esta formula que encontramos, a trabalhar e a seu tempo os novos temas surgirão.

O que acham da cena musical em Portugal?

Duda- No fundo, não há forma de fugir. Portugal é um pais pequeno, e isso acaba por tirar espaço a bandas com muita qualidade, e acaba por criar um filtro natural, e esse filtro nem sempre tem parâmetros qualitativos que honrem o que faz aqui neste país, mas acho que acaba por haver espaço para as pessoas que fazem as coisas com honestidade, e no fundo nós tentamo-nos inserir nesse mercado.

Estamos cada vez mais entregues a nós, os músicos. E há que tirar vantagens desse facto.

A escolha de cantar em português, foi natural ou uma escolha?

Duda- Não, foi um imperativo. Queríamos vender muitos discos! (gargalhadas)

Alexandre- O Duda só tinha cantado em inglês, quando o abordamos, e depois ele também tomou parte da génese do projecto, decidimos que queríamos mesmo cantar em português. Porquê? Porque é a língua que estamos aqui agora a falar, é sim um imperativo.

Duda- Para mim foi um desafio, e acho que o resultado é bom. Se calhar acontece que quem ouve acha que faria sentido cantar em inglês mas nós quisemos contrariar um pouco essa tendência. Não temos nada contra quem canta em inglês, é óbvio.

Qual o objectivo mais imediato da banda?

Duda- Estamos quase a acabar a nossa tour, e queremos é tocar, mostrar o nosso trabalho, é esse o nosso objectivo nesta altura.

Tem uma meta a longo prazo que gostariam de atingir?

Duda- Basicamente, é tornarmo-nos numa referência no panorama musical português. Mas temos consciência que apesar do sucesso do nosso single e tudo que temos conseguido, uma carreira não se constrói com base nisso, e existem etapas que tens de cumprir, não podes saltar e queremos viver tudo ao máximo e a seu momento e é importante isso.
Alexandre- Ainda estamos no cartão de visita…


A IMAGEM DO SOM fica á espera do novo álbum e de vos encontrar por aí na estrada!

REPORTAGEM
FOTOGRAFIAS, TEXTO E ENTREVISTA : RICARDO COSTA

AGRADECIMENTOS
TERTÚLIA CASTELENSE


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