Frankie Chavez

FRANKIE CHAVES

Tertulia Castelense, Maia (Porto)

Este espaço corre o risco de se tornar um local de culto. Quer pelas bandas que começaram ali a carreira, como pelas que por lá passam e a forma como o ambiente se torna facilmente familiar e acolhedor. É sem duvida o melhor local para se assistir a um bom concerto, sentindo-se como se a banda tocasse lá em casa na sala de estar.

Hoje tínhamos um nome que ultimamente teima em aparecer nas conversas e em todo o lugar onde de boa musica se trate.

Frankie Chavez, “one man band” praticante devoto de um blues/folk tão cru quanto intimo, era-me dito. Ok, a curiosidade ia crescendo.

E porque a malta precisa de etiquetas e afins, o musico ia sendo apelidado “um Jack Johnson português”. Bom, a referência não é má, pensava eu.

Nada me preparou para este concerto. Nem seria possível, tantas foram as surpresas e coisas mais. Qual Jack Jackson!!!

A 1ª impressão: o tipo parece saído de um carro americano, encostado algures na rua, pintado de lama e afins.

Depois, vem a musica. E essa sim, fala por si, e passado as referencias tal como Robert Johnson, Jimi Hendrix… apenas para citar os mais óbvios e conhecidos.

Pois, nada mais difícil do que falar sobre a sua musica, não sem recorrer a adjectivos orelhudos e banais… por isso sabe tão bem afirmar: só ouvindo mesmo!

A forma natural e eximia com que acaricia as cordas hipnotiza o mais céptico de entre nós.

Trata-se de uma conversa, onde somos envolvidos. O silêncio da audiência atenta desde o 1º acorde, como se nos fossem contadas histórias de outros tempos e lugares desconhecidos. E depois os aplausos que apenas desparecem para receber um outro trecho de GENIALIDADE!

Viaja-se, literalmente. Não pelo exotismo do som, mas pelo trilho que nos é apontado uma vez e outra.

Palavras de viajante, uma conversa consigo mesmo, que partilha, com a humildade dos grandes e força de quem encara a vida tal percurso aventureiro.

Um homem, algumas guitarras, e uma bateria despida ao essencial, alguns pedais são os componentes que nos transportam a universos paralelos, confortáveis, idílicos, onde tudo parece tal simples como respirar…

Viver num local como Austrália, revelou uma outra forma de encarar isto de tocar e encantar. Bendita!

Os temas? Abriu com “I don’t belong”, um dos temas mais fortes do seu EP homónimo lançado no projecto “Optimus Discos” de Henrique Amaro.

Tema ritmado, e composto por elementos que nos introduziam ao seu domínio sobre tudo que tem cordas. Tecnica excelente no uso de “slide”, 2º microfone para as partes de voz “distorcida qb”, passagens suavemente psicadélicas…

Seguiu-se “Vagabond”, versão da banda Australiana Wolfmother, tão reconhecível quanto personalizada.

Tivemos direito aos temas do EP, versões arrepiantes como a “Voodoo Chile” e “Sunshine of your love” de Cream, entre outras… O reportório deste musico é tão variado e sentido que custa a acreditar que estamos perante um produto nacional por assim dizer.

Surpreendente foi sem duvida a sua versão do “I believe I’ll dust my broom” do mítico Robert Jonhson! Que momento!

Este musico viu uma das suas musicas na banda sonora de um documentário sobre o surf na Indonésia; participou também na banda sonora do documentário “Pare, Escute e Olhe” de Jorge Pelicano, que retrata o isolamento das pequenas povoações de Trás-Os-Montes.

“Search” (tocada com guitarra portuguesa, com em open tuning")foi a musica oficial da prova Rip Curl Pro Search 2009, acabando por ser o “motor” inicial para a carreira que agora está em crescimentos.

Um artista que se junta ao leque dos eleitos que existem neste país, cujas carreiras devem ser acompanhadas bem de perto.



















Terminou a sua actuação com uma balada blues, daquelas que podiam ter origem nas margem do Delta, ou algures no Mississipi… sentida, um hino á dor/amor, e ainda nos prendou com um instrumental fantástico interpretado numa “Lap Slide Guitar”, que diga-se de passagem, Chavez domina de forma estonteante!

Não assistir a um concerto deste homem é privar-se de algo único.

“Pena não se ter gravado isto! Grande som, ambiente, etc… mas um gajo não adivinha”, dizia-me após o concerto.

Algo me diz que este concerto não sendo irrepetível quer em intensidade e qualidade geral, foi um daqueles que nenhum dos presentes se vai esquecer.

Setlist

Intro

I don’t belong

Vagabond

Time machine

Sunshine of your love

I believe I’ll dust my broom

Hey

Slowdance

Another Day

Reflexions

This train is gone

21st December

The search

Disbunda em La

Voodoo Chile + Mama

Dreams of a rebel

Bring me flowers

Circular Key


Texto: Ricardo Costa

Fotografia: Ricardo Costa e Carla Silva


2 comentários:

  1. Anónimo6.7.10

    Parabéns por esta reportagem, acho que quem a ler vai ficar muito curioso para conhecer o trabalho do Frankie ao vivo!
    Apesar do "silêncio" dos presentes:) a noite foi inesquecível marcada pela exelente música e pela simpatia e boa disposição do Frankie...

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  2. Anónimo12.7.10

    Eu estive lá!!!E confirmo... Frankie Chavez ainda vai dar muito que falar!...Ah, e se há silêncios ensurdecedores, este foi certamente um deles...para quê falar quando só queremos ouvir?!

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