MARIA DE MEDEIROS




Auditório Municipal de Gaia
8 de Abril de 2010


De Portugal para o Mundo... Maria de Medeiros!

No arranque da apresentação ao vivo do seu segundo álbum, “Penínsulas & Continentes”, Maria de Medeiros actuou no dia 8 de Abril no Auditório Municipal de Gaia, depois de, na véspera, ter iniciado a sua digressão no Cinema São Jorge, em Lisboa (espectáculo que, de resto, a IMAGEM DO SOM acompanhou e cuja reportagem pode ser vista aqui:
http://aimagemdosom2008.blogspot.com/2009/11/maria-de-medeiros.html ) .

O álbum é apresentado como sendo uma viagem musical entre as Penínsulas Ibérica e Itálica, e os Continentes Americano e Africano. A extraordinária banda de 3 músicos que acompanhou a artista é, só de si, uma viagem à volta do mundo e das suas sonoridades. O que daqueles instrumentos saiu teve tanto de melodioso como de musicalmente variado.

E tudo encaixou.

Maria de Medeiros, cantora, actriz e realizadora, presenteou os espectadores com a sua graciosidade, com a sua imensa simpatia, e com o seu talento, cantando em castelhano, inglês, francês, italiano e português (no estado puro e não só – o criolo e o brasileiro também se fizeram ouvir). Vestida de preto (muitíssimo bem vestida, acrescente-se), e imensamente bela, adoptou uma postura em palco irrepreensível: dançou e gesticulou quando a música a isso se deu; interiorizou e acalmou quando a música a isso obrigou. Cantou muito bem (talvez melhor do que os registos de estúdio fariam antever, arriscamo-nos a dizer); tão bem que daria vontade de perguntar, a quem visse esta Maria de Medeiros nesta noite sem a conhecer previamente (acreditemos por um momento que tal seria possível), se achava crível que ela tivesse feito outras coisas na vida para além desta. Provavelmente, a resposta seria negativa...



Foi ao som do baixo do brasileiro Ricardo Feijão, que o concerto arrancou. Este músico revelou-se muito simpático, sempre muito concentrado, muito sóbrio e detentor de uma grande técnica.





A bateria esteve por conta do americano Donald Edwards. Donald é um baterista excepcional, com uma característica muito particular: é canhoto, mas nem por isso inverteu a posição de todos os elementos da bateria. Assim, vai à tarola com a mão direita e vai ao prato de choque com a mão esquerda... que é também a que usa para o ride! Tudo isto resulta num efeito visual fora do comum, mas nem por isso menos brilhante musicalmente. Tem tanto de rigoroso e de versátil, como de estiloso e fez um solo brutal após “Paz, poeta e pombas”... Excelente.


Pascal Salmon, natural de Rennes, na Bretanha, foi o maestro de serviço. Sentado por detrás de um piano de cauda, praticamente de costas para o público, voltou a provar que é um pianista virtuoso e espalhou talento por todas aquelas teclas pretas e brancas. Foi igualmente muito agradável de ver e ouvir na frente do palco, em pé e ao lado de Maria de Medeiros, a fazer a segunda voz de “Quem à janela”, num tema que teve como suporte instrumental “apenas” o baixo eléctrico e a bateria. Inacreditável...


Paulo Furtado (“The Legendary Tigerman”) foi, à semelhança do concerto no S. Jorge, convidado de Maria de Medeiros.









O setlist do espectáculo foi o seguinte:
“Te recuerdo Amanda”, do chileno Víctor Jara
“Velha chica”, de Waldemar Bastos
“Coro da Primavera”, de Zeca Afonso
“Epigrama”, uma música de Toti Soler para um poema de Joan Salvat Papasseit
“Che scherzi fa l’amore”, de Nino Rota
“Não vás contar que mudei a fechadura”, de Sérgio Godinho
“Muxima”, do Duo Ouro Negro
“Quem à janela”, de Amélia Muge
“These boots are made for walking” e “Say baby, what you’re trying to do”, com Paulo Furtado
“O homem voltou”, de Zeca Afonso
“Speak softly love”, de Andy Williams
“A jazmin”, dos El Ultimo de la Fila




“La dolce vita”, de Nino Rota
“Tudo por acaso”, de Lenine
“Paz, poeta e pombas”, de Zeca Afonso
“Aixi com cell qui es veu prop de la mort”, num poema do séc. XV do poeta valenciano Ausias March
“Por delicadeza”, um poema de Sophia de Mello Breyner Andersen, musicado por Maria de Medeiros e arranjado por Pascal Salmon
“Should I stay or should I go”, dos The Clash
António Victorino d’Almeida (artista cuja obra e cujo talento este país está à espera não se percebe muito bem de quê para reconhecer e para projectar) ficaria certamente orgulhoso da filha se tivesse assistido a este espectáculo.

Talvez porque filha de peixe sabe nadar, ou talvez apenas porque sim, Maria de Medeiros também brilha a cantar ao vivo.













 
Agradecimentos:
Auditório Municipal de Gaia



3 comentários:

  1. Maria de Medeiro é uma artista completa e qualquer aparição dela a nível de espectáculo é sempre considerado um manifesto artístico.
    Parabéns pelo trabalho invejável de fotografar tão grande senhora que, apesar de não ter como residência o nosso país, encontra sempre cá os seus maiores fãs!

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  2. Bem, mas que viagem... pela música, pela fotografia (e recorte sensual associado), e pelo excelente texto.... só digo, PERFEITO! Sinceramente, Parabéns Rui Vaz!

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  3. Anónimo6.6.10

    Maria, Maria
    É um dom, uma certa magia
    Uma força que nos alerta
    Uma mulher que merece
    Viver e amar
    Como outra qualquer
    Do planeta
    Maria, Maria
    É o som, é a cor, é o suor
    É a dose mais forte e lenta
    De uma gente que rí
    Quando deve chorar
    E não vive, apenas aguenta
    Mas é preciso ter força
    É preciso ter raça
    É preciso ter gana sempre
    Quem traz no corpo a marca
    Maria, Maria
    Mistura a dor e a alegria
    Mas é preciso ter manha
    É preciso ter graça
    É preciso ter sonho sempre
    Quem traz na pele essa marca
    Possui a estranha mania
    De ter fé na vida....
    Mas é preciso ter força
    É preciso ter raça
    É preciso ter gana sempre
    Quem traz no corpo a marca
    Maria, Maria
    Mistura a dor e a alegria...
    Mas é preciso ter manha
    É preciso ter graça
    É preciso ter sonho sempre
    Quem traz na pele essa marca
    Possui a estranha mania
    De ter fé na vida....

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