MARILLION

Lousada
27 de Março de 2010





Marillion ao vivo em Lousada



Qualquer reportagem sobre um concerto dos Marillion acaba invariavelmente por ser uma crónica de um sucesso anunciado. E se é verdade que pode não ser a melhor experiência do mundo ler sobre algo que foi bom e que se sabia de antemão que o seria, também é verdade que o que é bom o pode ser de muitas maneiras diferentes.

Os Marillion são-no. Sempre bons e sempre de maneira diferente.

A banda britânica teve neste concerto na Casa de Vila Verde, em Lousada, a chave de ouro que fechou a porta que foi a sua estadia de duas semanas em Portugal.

O concerto propriamente dito dividiu-se em duas partes.



A primeira foi a apresentação ao vivo do último registo de estúdio da banda, “Less is More”. “Less is More” não nos dá músicas novas dos Marillion, com excepção da balada “It’s not your fault”; dá-nos, isso sim, músicas com que os Marillion nos presentearam já num passado recente, mas que decidiram agora vestir com outra roupa, o que resultou num registo de muita serenidade e de muita musicalidade – alguma até, possivelmente, que poderíamos julgar que os temas originais não teriam. O alinhamento desta primeira parte foi exactamente o mesmo que podemos encontrar no disco.

A segunda parte foi mais ou menos um “Less is More - extended version”. Vieram outros temas, também (re)conhecidos, vestidos sob a alçada da mesma tendência.

Os Marillion anunciam a digressão, na qual este concerto se inclui, como uma “acoustic tour”. E sê-lo-ia no seu estado mais puro se não houvesse a guitarra eléctrica de Steve Rothery e alguns órgãos sintetizados de Mark Kelly. Fora isso (que só embelezou o quadro, diga-se em boa verdade), tudo foi acústico e tudo foi natural. A banda tocou num palco pouco mais alto que as cadeiras da plateia, com uma luz adequada ao local, sem grandes malabarismos, e com um cenário muito original por trás – as imagens documentam-no.


Como descrever o espectáculo?

Em primeiro lugar, foi claramente um encontro de amigos. Os admiradores portugueses dos Marillion são mais ou menos como uma grande família, o que em muito se deve ao seu clube de fãs, os Marillionados, que trabalharam incansavelmente para que esta passagem dos Marillion por Lousada fosse coroada de êxito.



Em segundo lugar, assistiu-se a música de qualidade, tocada com qualidade e com um som de grandessíssima qualidade. De facto, o arsenal de equipamento de som da banda (a mesa de mistura de enormes proporções, os pré-amplificadores, os amplificadores, os equalizadores, todos os outros processadores de efeitos, ...) mais parecia preparado para se fazer ouvir por 3000 pessoas ao ar livre do que por 300 num salão de festas... Mas, à primeira nota, tudo se revelou proporcional e acertado. O som saía com uma pureza assustadora das enormes colunas, nem muito alto, nem muito baixo. Simplesmente perfeito.

Em terceiro lugar, foi uma sala de espectáculos com uma taxa de câmaras fotográficas, e de filmar, e de gravadores e de telemóveis por pessoa, muito impressionante... E, aqui, os Marillion continuam a marcar claramente a diferença: eles entendem que o registo dos seus espectáculos não se deve confinar a meia dúzia de eleitos. A proliferação da sua música mantém-nos vivos, dá-lhes força e leva-os mais longe e a mais gente. Não tardará a publicação de videos deste concerto por essa net fora, certamente.

É sempre bom ver e ouvir os Marillion...

Steve Hogarth é, por si só, uma festa. Revela-se continuamente como um excelente músico, para além de um exclente cantor. Divertido e comunicativo, continua a cantar como se os anos não passassem por ele. Os rasgos vocais em “If My Heart Were A Ball It Would Roll Uphill”, por exemplo, demonstram a enorme coragem de um cinquentão que insiste em cantar como cantava há vinte anos.

Um outro Steve, desta vez Rothery, com quem a IMAGEM DO SOM havia estado já na véspera, na sua Guitar Clinic, é um guitarrista convicto e detentor de um virtuosismo cheio de personalidade. Estreou, nesta digressão, para satisfação de muitos dos seus admiradores que também tocam guitarra, um protótipo daquilo que será a futura guitarra de assinatura Steve Rothery, construído pelo extraordinário luthier norte-americano Jack Dent. Foi, com esta guitarra, co-responsável por um dos mais marcantes momentos da noite, o solo de “Quartz”, que deixou a sala arrepiada e que mereceu a primeira ovação em pé.

Pete Trewavas, o baixista da banda, é discreto mas é versátil. Para além do baixo, fartou-se de tocar guitarra. Falou com o público e brincou bastante mais do que aquilo que ao longo destes anos nos vem habituando.

Mark Kelly continua com o mesmo olhar de puto que tinha nos tempos de Fugazi. Tem hoje menos cabelo do que na altura (melhor: não o tem!), mas continua muito certinho e muito concentrado a tocar. Agarrou-se às suas teclas, e ao seu xilofone, e à sua auto-harpa, e tocou muitíssimo bem.
Ian Mosley é uma força da natureza. Continua, ao fim de todos estes anos, a ser um baterista de eleição, com uma técnica muito própria (nomeadamente no estilo elegante com que, sendo destro, insiste em ir ao prato de choque com a mão esquerda – algo que definitivamente marca a linha de ritmo da banda). Em suma: é uma alinhadíssima coluna vertebral para todo este som.

Foram bem mais de duas horas de espectáculo e ouviram-se 20 anos de canções... “Easter”, tão bonita com um solo de guitarra acústica; “Gazpacho”, tão ritmado que pareceu o “La bamba”; “Cover my eyes” ao piano; “3 minute boy”, a fechar, com o público a cantar com Steve Hogarth... Havia tanto para dizer e para tentar pôr em palavras... Mas não é fácil colocar por escrito o que se passou na Casa de Vila Verde. Fiquemo-nos, pois, com estas “IMAGENS DO SOM” e com as recordações (vividas ou imaginadas) do que aquilo foi, ao mesmo tempo que esperamos pela próxima oportunidade de (n)os vermos novamente.

Que seja em breve.













FOTOGRAFIAS : RUI VAZ
TEXTO : SARA SALGADO, RUI VAZ

Agradecimentos:

9 comentários:

  1. António Carreira31.3.10

    Tenho dito a toda a gente que não há palavras para descrever o que foi o concerto dos Marillion, mas tu vieste provar o contrário! Excelente resumo do que foi uma noite muito furos acima de perfeita!!
    Tenho alguma pena que a maior parte das pessoas tenha deixado de ouvir Marillion com a saída do Fish e não se aperceba da riqueza musical dos últimos 20 anos da banda. Basta ouvir o Brave para se perceber que estes Marillion estão a anos-luz do consumo imediato. E quem diz o Brave diz os "últimos" 10 álbuns. Um dos segredos mais bem guardados da música actual.
    Há coisas que fazem todo o sentido, e ouvir Marillion a tocar o Fake Plastic Trees é uma delas. Se os Marillion estão a anos-luz do consumo imediato os Radiohead estão a anos-luz de tudo o que se faz na música actual. Kudos!

    Parabéns pela reportagem, as condições não eram as melhores para fotografar, o que se compreende se olharmos ao carácter mais intimista do concerto. Por mim podia ter vindo de lá sem fotografia nenhuma que não me importava nada. O resto fala bem mais alto!

    ;)

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  2. Olá Sara e Rui.
    Bela reportagem. Gostei muito da (rara) foto do Ian Mosley, e também do sorriso entre os Steves. Eles estavam mesmo em dia sim :)

    Obrigado por a terem partilhado.

    Abraços,
    Miguel Baptista.

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  3. Impressionado... com o grau de conhecimento demonstrado pelo repórter no que toca ao histórico do grupo e às suas colectâneas musicais, à cobertura atenta, à narrativa e à imagem fotográfica... POTENTE!

    Sorrisos, momentos de concentração, satisfação, emoção e "know-how" recolhidos "right on time", no que terá sido mais uma excelente noite musical proporcionada desta vez pelos Marillion.

    E pergunto: - o que diriam os membros deste grupo perante esta cobertura da Imagem do som?

    Parabéns aos intervenientes, destacando acima de tudo, desta vez... Os Marillion (pelos vistos obrigatório) e o dueto Rui Vaz e Sara Salgado.


    PL

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  4. Ernesto Martins Vaz Ribeiro31.3.10

    Não estive lá mas em boa verdade a leitura deu para perceber que terei perdido um momento ímpar. Parece-me fantástico que este Grupo seja capaz, numa sociedade egoísta como aquela em que vivemos, de executar o papel do tipo anti-culto da personalidade, descendo ao povoado e confraternizando com um grupo de amigos.
    Parabéns pela reportagem. Parabéns a esse belo grupo que vem distribuindo o seu talento seja com Hogarth, seja com Fish. E já agora uma reflexão : Já pensaram no que se tornaria um espectáculo com estes talentosos músicos espalhando para o ar o perfume da música cantada ora por um Fish, ora por um Hogarth, à vez, juntos ou trocando mesmo as músicas?
    Não querem fazer a proposta a Hogarth, Rothery, Mosley, Kelly, Trewavas e, claro a Fish?

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  5. www.zoom-on.blogspot.com1.4.10

    Melhor será dificil .O melhor concerto que vi até hoje .

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  6. It was a great gig!!! Obrigada!!!!

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  7. Sofia1.4.10

    Reportagem e fotografias sensacionais!

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  8. Salir de Caracas, ser detenido por la Guardia Nacional para ser chequeado en un scanner corporal por presunta sospecha de trafico de drogas, cruzar el atlantico, tomar el tren en Sao Bento, bajar en Caide y tomar un taxi a Casa de Vila Verde no fue nada. Ese toque de Marillion lo valio todo. sencillamente perfecto.

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  9. Anónimo6.4.10

    muito boa reportagem, parabens.

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